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Desengavetar processos de pesquisa
Esse post é sobre a minha pesquisa de mestrado no programa Educação e Saúde na Infância e na Adolescência realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) sob orientação do professor Cleber Santos Vieira entre os anos de 2014 e 2016.
O meu percurso no mestrado foi bem conturbado, pois a investigação em ciências humanas foi algo muito difícil de entender, especialmente porque o meu campo de pesquisa envolvia práticas e teorias marginais à academia. Coisa que na época eu não tinha ideia. Na verdade, desde a graduação busquei referenciais fora dos cânones, e, por isso, tive muita dificuldade em me enquadrar na prática da pesquisa. No entanto, eu achava, como muita gente acha, que o problema estava em mim, que eu é que não era boa o suficiente para estar ali.
Mas acabei seguindo e, mesmo sem um currículo lattes exemplar, entrei no mestrado. Não foi à toa que fui buscar um programa de pós-graduação interdisciplinar, na tentativa de extrapolar algumas caixas que não me cabiam.
O resultado foi positivo e eu consegui entrar na pós-graduação, embora continuasse a não me sentir pertencente àquele meio. Sou eternamente grata ao professor Cleber por toda confiança e paciência comigo nessa trajetória, pois ele me ensinou verdadeiramente que o mais importante é o aprendizado a partir do exemplo, e ele foi um grande exemplo para mim de como a academia pode (e precisa) ser humana. E ele permitiu que eu traçasse o meu caminho com autonomia, responsabilidade e coerência.
E eu aprendi, não sem dor, que, de fato, a pesquisa é o próprio caminhar.
Quando da entrada no mestrado, eu já dava aulas de História para o Ensino Médio no Estado de São Paulo, e foi lá que conheci a Educação de Jovens e Adultos (EJA), segmento que muito me encantou.
Me inquietava como esse segmento era tratado pela escola, como era visto pelo poder público, quem eram as pessoas que estudavam na EJA e como os professores trabalhavam com esses estudantes. Por isso, minha primeira proposta de investigação foi a questão racial nos livros didáticos aprovados pelo Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos (PNLDEJA) em 2011 e 2014.
Posteriormente, em conversa com o professor Cleber, percebemos que pesquisar a questão racial em todos os livros aprovados pelo PNLDEJA estava extremamente protocolar. Faltava algo que sustentasse essa iniciativa. Foi então que chegou às minhas mãos, através da professora Claudia Vóvio, o volume Para entender o Negro no Brasil de Hoje: história, realidades, problemas e caminhos, parte integrante da coleção Viver, Aprender e escrito por Kabengele Munanga e Nilma Lino Gomes.
Realizado pela ONG Ação Educativa em parceria com a Global Editora e com autoria de dois grandes intelectuais dos estudos africanos e afro-brasileiros, o volume da coleção Viver, Aprender passou a adquirir proeminência para a pesquisa e o livro escrito por cientistas negros possibilitou a construção de uma base sólida no que tange à questão racial. Foi nesse contexto, então, que a pesquisa começou a incorporar uma dimensão mais rica ao entrecruzar-se com a história do movimento negro a partir da trajetória da Ação Educativa e da editora Global.
O resultado foi uma dissertação de mestrado que, apesar de toda dificuldade, permitiu que eu me entendesse como pesquisadora em uma perspectiva contra hegemônica. Finalmente, entendi que estava nadando contra a corrente.
Nesse percurso, eu tive o grande prazer e privilégio de realizar uma entrevista com a autora Nilma Lino Gomes, momento muito especial, pois ela é uma referência importantíssima na minha busca intelectual. A entrevista foi maravilhosa, eu aprendi muito com ela e a sua fala enriqueceu e abrilhantou o meu trabalho.
Deixo aqui o link do repositório da Unifesp onde a dissertação está publicada e da edição da revista Revice que contém um artigo com parte dos resultados obtidos no mestrado.
Esses textos exprimem a busca pelos meus sentidos acadêmicos, e eu tenho muito orgulho do caminho que estou percorrendo. Espero que eles possam ser desengavetados e servir para que outras pessoas construam seus caminhos também.
Confere lá e deixe seus comentários.
Axé!
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