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Aulas Coleção Candace

Quando da chegada dos portugueses no território onde hoje é o Brasil, já havia diferentes populações vivendo em várias regiões. Como vimos na aula passada, embora haja discordâncias sobre quando, como e quem foram os primeiros seres humanos a ocupar o continente americano, é sabido que há - pelo menos - 10 mil anos atrás já existia vida humana e, consequentemente, organização civilizatória na parte sul do continente.

Acredita-se que os Tupis tenham vindo da Amazônia e, num processo longo de dispersão, foram se alocando na região costeira do atual Brasil ao longo dos últimos séculos antes de 1500. Teriam sido, possivelmente, os destruidores e/ou sucessores dos povos sambaquis que habitavam essas áreas litorâneas (a palavra sambaqui significa ‘monte de concha’ em Tupi).

Os colonizadores europeus também chegaram pelo litoral e ali permaneceram na medida em que as chances de sobreviver eram maiores. Com isso, tiveram mais contato com aquelas populações costeiras de origem Tupi.

De fato a vida na região costeira era mais fácil, pois os rios, o clima ameno e a fauna e a flora facilitavam a sobrevivência humana. Devido a isso, acredita-se que os povos nativos da costa possuíam organizações mais complexas do que os povos do interior. Essa visão acabou sendo reforçada pelos extensos registros europeus sobre esses indígenas do litoral em contraposição à escassa documentação sobre os povos do interior. Mas isso está sendo constantemente revisto pela historiografia indígena atual.

Isso porque, quando Cabral chegou à Bahia em 1500, existia no atual Brasil uma grande e diversificada população indígena, distribuída ao longo de todo o território (não só no litoral). Esses indígenas eram bastante heterogêneos, ou seja, não formavam um único povo – ao contrário, estavam divididos em várias sociedades, com uma diversidade de culturas, crenças, línguas e etc.

Porém, nas áreas costeiras, ocupados pela presença europeia, a língua mais falada era o chamado Tupinambá. Essa foi a língua mais documentada por ter sido utilizada para comunicação entre brancos e índios. Por isso, é preciso ter um certo cuidado com as nomenclaturas, especialmente com aquelas atribuídas pelos europeus às populações nativas, pois elas não correspondem às identidades indígenas substanciais.

Por conta do contato entre europeus e indígenas terem sido mediados principalmente pelo Tupinambá, esta ficou conhecida como língua brasílica. Muitas vezes surgem referências à língua “Tupi-guarani”, quando na verdade se pretende falar da língua Tupinambá, Tupi antigo, ou simplesmente Tupi, uma vez que Tupi-guarani não é uma língua, mas uma família linguística da qual o Tupinambá faz parte.

Nesse sentido, vale um adendo sobre o que são as famílias linguísticas. A língua é uma chave que nos permite conhecer todo o universo cultural de um povo. No período da chegada dos portugueses, estima-se que havia em torno de 6 a 10 milhões de pessoas vivendo no território brasileiro, uma população bem superior à que existia naquela época em Portugal (cerca de 1 milhão de habitantes). Eram 1.175 línguas indígenas faladas antes da colonização. Hoje, temos em torno de uma população de 300.000 indígenas distribuídos em mais ou menos 200 povos que falam cerca de 180 línguas.

Um dos recursos muito importantes para remontar à história indígena é a linguística. E a divisão em povos e etnias acabou ficando vinculada ao seu pertencimento às famílias linguísticas. Ou seja: povos que falavam línguas aparentadas pertencem a uma mesma família linguística (como as línguas latinas ou anglo-saxônicas). E cada família linguística compreende diferentes línguas, que são associadas às etnias.

Existem 4 grandes troncos linguísticos. Cada um desses troncos possui diferentes famílias linguísticas, que, por sua vez, compreendem diferentes línguas:

 

· Tupi

· Arawak/aruaques

· Jê

· Karib

 

Os Tupinambás foram os povos mais descritos nos registos que chegaram até nós através dos europeus. Mas existiram inúmeros outros povos e, hoje, muita coisa já mudou em termos de configurações étnicas e territoriais em relação aos séculos XVI e XVII. O problema é que “os trajetos desses índios que viviam na América portuguesa permanecem dispersos, fragmentados na vasta documentação colonial e encontram-se adormecidos nos arquivos” (PORTUGAL e HURTADO, 2015, p.).

Essa frase representa o silêncio da historiografia frente às outras histórias não contadas. E aqui é importante retornar ao conceito de eurocentrismo que a disciplina histórica precisa enfrentar. O samba-enredo da Escola de Samba Mangueira de 2019 expressou esse silenciamento da história dos povos originários de maneira muito adequada: História para Ninar Gente Grande.

 

Percebam no vídeo do desfile, entre os minutos 18 e 25, a narrativa apresentada pela comissão de Frente (Eu quero um País que não está no retrato); pelo casal de mestre-sala e porta-bandeira; e as duas primeiras alas: A cerâmica testemunha de um Brasil milenar e A cerâmica marajoara, respectivamente.

A história indígena possui ainda inúmeras lacunas. Especialmente porque as tentativas de construção dessa história, em sua grande parte, foram feitas a partir de uma visão superficial das fontes escritas elaboradas pelos europeus, principalmente os viajantes, daquela época (séculos XVI e XVII).

Embora os registros dessas populações tenham sido feitos por europeus e muitas vezes suas visões a respeito dos indígenas sejam limitadas e fracas, esses registros permitem aos estudiosos entenderem e saberem como os chamados Tupinambás viviam e, principalmente, como eram vistos pelos europeus – visão essa que de alguma forma repercute até os dias atuais e atua sobre a população indígena.

Portanto, é necessário cada vez mais estudos que contemplem esses relatos a partir de um olhar crítico. A maior parte dos relatos localiza os indígenas entre a ideia do selvagem e do bom selvagem. São estereótipos construídos por dois polos que se cruzam e estão sob uma mesma perspectiva colonizadora. De um lado, a ideia do índio selvagem, aquele sem civilização, sem religião (pagão), bárbaro, violento, atrasado. De outro, a ideia do bom selvagem, do índio convertido, um ser inocente, visto como parte da natureza e tratado de maneira infantilizada.

Para estudar e entender a história indígena é preciso se despir desses estereótipos arraigados na mente ocidental, colonizadora, eurocêntrica. A mudança na percepção dos modos de vida dessas populações é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, fazendo valer os direitos constitucionais desses povos. Olhar para as culturas, tradições, ritos e cosmologias indígenas é importante para enfatizar que: primeiro, a diversidade existente entre as populações indígenas é enorme. E, depois, para romper com estereótipos que prejudicam a sobrevivência física e cultural dessas populações - que são parte importantíssima da história do Brasil.

Percebam no vídeo abaixo, Índios no Brasil, a maneira como o índio está localizado no imaginário da população brasileira. Os depoimentos percorrem desde os estereótipos do selvagem até os do bom selvagem. Veja o vídeo e preste atenção nas falas das pessoas entrevistadas: em quais exemplos percebemos os estereótipos apresentados? Qual percepção dos indígenas eles indicam? Me respondam.

 

Até a próxima!

 

Referências bibliográficas:

SILVA, Aracy Lopes da. Mito, Razão, História e Sociedade: inter-relações nos universos sócio-culturais indígenas. In: SILVA, Aracy Lopes da; GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (org.). A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília: MEC/MARI/UNESCO, 1995.

FARIAS, José Airton de. Indígenas no Brasil e povos da África: breves histórias. Fortaleza: Sistema Ari de Sá de Ensino, 2017.

PORTUGAL, Ana Raquel; HURTADO, Liliana Regalado de (org.). Representações culturais da América indígena [online]. São Paulo: Editora Unesp; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2015.

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